A ENTRADA DA CRIANÇA NA ESCOLA
O início do ano é um momento precioso na escola, em que tudo é novo e
difícil para crianças, pais e professores. Uma nova turma de crianças faz a sua
estréia na escola. É tempo de adaptação. Costuma-se chamar de adaptação o
período inicial do ano letivo em que crianças estão se acostumando à nova
escola. Muitas escolas enfrentam problemas neste período, uma vez que, trata-se
de um período delicado para a criança, onde se fará uma passagem do familiar
para o estranho. Traz também uma mudança na relação desta com a mãe e que
envolverá toda a família. Segundo Cristina Sartori, “chamar esse período de uma
adaptação é reduzir a experiência e que a maneira como se concebe essa entrada
na escola possibilitará que as pré-escolas, ou as chamadas escolas maternais
possam se afirmar como escola”. Tomar esse processo como uma adaptação é
problemático, pois reduz essa experiência a que a criança não chore para ficar
na escola, ou ainda que a criança fique na escola sem a presença da mãe. Quando
na verdade vai muito além disso.
É necessário reconhecer a entrada da criança na escola como um processo
que envolve uma passagem; para então reconhecer a escola como instituição
educativa, conhecer e refletir sobre suas propostas. Assim, este primeiro
contato da criança com a escola, passa a ser parte de um processo de
estruturação subjetiva da criança.
A passagem da criança para a escola privilegia sua relação com a mãe e
não com a escola. O lugar que a criança encontra na escola é oferecido para ela
pela mãe. Ou seja, quem decide por ela é
a mãe. É pelo desejo dos pais que a criança é introduzida na escola. É função
da mãe introduzir um lugar na escola para o filho e sustentar este ato frente a
ele.
Para SARTORI, “a mãe introduz o filho na escola”. Ou seja, há um desejo materno
que determina e constitui uma nova realidade para o filho. A partir de como
este desejo se articula, essa entrada se fará ou não. Esse desejo da mãe
significa dizer ao filho que este não ocupa um lugar de complementaridade a
ela. Portanto, é necessário que a mãe deseje que seu filho ingresse na escola e
que este desejo seja repassado ao filho. Ela precisa aceitar que seu filho não
ocupa um lugar exclusivo para ela e sim, pode interagir com o mundo a sua
volta. Neste caso, é importante que a mãe conheça a proposta de trabalho da
escola e uma vez de acordo com elas, possa submeter-se a essas leis. A criança
será introduzida mediante o reconhecimento que a mãe confere à escola.
A escola conta como terceiro entre mãe e criança, conta como significando
que o desejo da mãe vai além do desejo da criança. Sendo a escola considerada
como elemento terceiro para a criança é fruto dessa passagem que se dá no
interior da pré-escola, ou seja, a criança elabora nesse período escolar, uma
passagem que lhe possibilita ingressar no mundo simbólico onde ela se inscreve
em sua condição de sujeito diferentemente, revelado por sua experiência com a
escrita.
SARTORI critica a idéia da escola como uma “segunda casa”, pois a criança
precisa ver a escola como um lugar de diferença com relação à mãe, aonde ela
não irá reencontra-la ali. Nesta idade a criança demanda um exercício de
maternagem, mas isso não significa que a função da professora seja ocupar o
lugar da mãe no sentido de retirar da cena esse elemento do estranho, tomado na
referência do mal -estar.
A escola visa uma “segunda casa” quando o que acontece na escola é igual
ao que acontece em casa. E qual é a função da escola principalmente em tempos
de adaptação? Cabe a ela acolher a criança criando condições para que o espaço
escolar seja reconhecido por ela mediante uma ação do professor junto a ela,
permitindo que se estabeleça entre eles um laço de confiança. É interessante a
escola poder proporcionar condições para orientar as mães, trabalhar com
elas no sentido de dizer como devem se colocar no espaço de maneira a facilitar
o processo do filho, e não deixar que elas não se responsabilizem por sua
função. Para isso a escola deve ser capaz de despertar transferência - e isso
ela o faz na medida em que se apresenta através de uma proposta de trabalho.
BIBLIOGRAFIA:
SARTORI,
Cristina Helena G. A entrada da criança na escola.In: CONGRESSO INTERNACIONAL
DE PSICÁLISE E SUAS CONEXÕES. Trata-se uma criança.Rio de Janeiro: Companhia de
Freud, 1999, p.323-330